sábado, 13 de junho de 2009

Cruzadas - Um pouco mais sobre...

Fonte: Partida de um cavaleiro para a cruzada (início do século XIII)[1].

O fascínio exercido pela cavalaria sobre as pessoas ficou registrado na literatura em língua vulgar. Vulgar porque era falada e entendida pelo povo. Essas histórias eram criadas primeiro oralmente e somente depois eram escritas. Em uma sociedade de maioria analfabeta, ouvir era tão importante quanto ler.
E hoje, onde a maioria é alfabetizada, o tema Cruzada ainda exerce fascínio sobre as pessoas? O que diz o cinema acerca disso?Os vários gêneros dentro da literatura na época medieval traziam um ideal ou um modelo de cavaleiro que foi propagado. Todavia, essa literatura se chocava com a moral pregada pela Igreja. Mas, mesmo a Igreja se opondo a esses romances, não conseguiu impedir o sucesso que eles desfrutavam. Dessa forma, a solução por ela encontrada foi a de cristianizar os temas arturianos (os cavaleiros da Távola redonda). Ou seja, inserir elementos cristãos nessa literatura.
Com relação ao termo Cruzada, é interessante observarmos que esse vocábulo não era conhecido em sua época, e que somente seria utilizado no século XIII, mesmo assim, de forma esporádica. Nos textos medievais, as palavras usadas para se referir a esse movimento são: “peregrinação”, “guerra santa”, “expedição da Cruz” e “passagem[2]”.
A palavra Cruzada é devido à cruz que os cruzados bordavam em suas roupas porque se consideravam “soldados de Cristo”. Além disso, podiam utilizar diversas relíquias em suas campanhas.
Qual a importância dessa modificação do termo?
As Cruzadas eram “expedições militares empreendidas contra os inimigos da Cristandade e por isso legitimadas pela Igreja, que concedia aos seus participantes privilégios espirituais e materiais[3]”. Esses inimigos da Cristandade eram os muçulmanos no Oriente Médio e os que invadiram a Península Ibérica, mas também podiam ser os eslavos pagãos da Europa Oriental e os heréticos da Europa Ocidental.
Quanto aos privilégios, um deles dizia respeito às indulgências, que significava o perdão dos pecados. Aqueles que partiam em Cruzada podiam se redimir de seus pecados pelo simples fato de estarem participando de um evento aprovado pela Igreja. Aliás, quem iniciava uma Cruzada, na maioria dos casos, era o papa. E quem financiava eram os próprios cruzados e a Igreja.
O período de realização das Cruzadas foi de fins do século XI a fins do século XIII. E uma das razões destacada por Franco Jr. para que esse movimento tenha ocorrido foi que as Cruzadas representaram uma solução para os problemas colocados pelo início da desestruturação feudal, ou seja, funcionaram como válvula de escape para as tensões sociais, políticas, e econômicas provocadas pelo dinamismo do feudalismo.
Vários elementos contribuíram para a realização das Cruzadas, dentre eles se destaca a nobreza despossuída e turbulenta.


Na sua constante tentativa de obter terras, muitos nobres atacavam os feudos vizinhos e invadiam mesmo feudos da Igreja. Esta, além disso, era prejudicada pelas constantes guerras feudais, que ao afetarem a produção diminuíam o dízimo cobrado pela Igreja[4].


Nesse contexto foram criados os movimentos: a Paz de Deus: que proibia ataques a clérigos não armados, camponeses e comerciantes e a Trégua de Deus: que proibia lutas em certos dias considerados sagrados.As Cruzadas serviam para que a Igreja levasse a violência para fora da Cristandade e para que tentasse reunificar a Cristandade, dividida pelo Cisma do Oriente, momento em que a Igreja Católica (em Roma) se separou da Igreja Ortodoxa Grega (em Constantinopla).


As Cruzadas que buscavam a Terra Santa recebem tradicionalmente números (de Primeira a Oitava Cruzada), no caso das expedições oficiais, ou nomes (Cruzada Popular, Cruzada de Crianças), para indicar a composição social diversa de outras[5].


Também havia um fluxo intenso de peregrinos, que não eram cruzados, mas que enfrentavam perigos para chegar à Jerusalém.
O papa Urbano II fez um discurso em Clermont que instigou a nobreza feudal a iniciar os preparativos para partir para Jerusalém. No seu discurso Urbano II disse aos participantes que era preciso ajudar os irmãos do Oriente, pois eles estavam sendo atacados pelos turcos. E que ricos e pobres deviam deixar de se matar e participar de uma guerra justa. Aqueles que morressem em batalha receberiam absolvição dos pecados. Quanto aos seus pertences, ficariam sob a proteção da Igreja. E, um último detalhe, os voluntários deveriam usar o sinal da cruz, em vermelho, sobre o ombro.
Tal movimento também repercutiu nas camadas populares, cuja pregação fervorosa ficou por conta do monge Pedro. Ele reuniu franceses e alemães sem condições materiais que tiveram mesmo que saquear e roubar para sanar a fome. Essa era a chamada Cruzada Popular. Esses bandos de homens maltrapilhos, devido ao seu fanatismo, massacraram comunidades judias na Alemanha. Outros tantos morreram durante a viagem.
Os cruzados venceram o temido exército dos turcos, devido às próprias guerras internas entre os turcos e o armamento pesado dos cavaleiros ocidentais, especialmente graças às cotas de malhas e couro que os protegiam das flechas inimigas.
Após essa vitória, dentre outras que tiveram de enfrentar, os cruzados chegaram a Jerusalém e cometeram um verdadeiro massacre de muçulmanos e judeus que tinham uma comunidade tradicional na Cidade Santa, acompanhado de pilhagens que não pouparam nem a Mesquita de Omar. A ambição dos barões não conhecia limites. Assim, seguiram cometendo as maiores atrocidades e carnificinas.
De acordo com Falbel, circulavam rumores no Ocidente latino, muito antes da Primeira Cruzada, de que muçulmanos e judeus pretendiam destruir lugares santos e o Santo Sepulcro. Isso seria motivo suficiente para tal genocídio?
Quando os cruzados chegaram a Jerusalém (1099), estabeleceram aí Estados feudo-colonial. Porque quem iria geri-los era a pequena nobreza feudal européia e os povos a serem dominados eram regiões de etnia e religião diferentes.
Dessa maneira se pode concluir que esses Estados francos formados no Oriente não passavam de uma mina de pólvora prestes a explodir. Além disso, a diferença étnica dificultava bastante a exploração dessas colônias. Não demorou muito, para que o primeiro desses Estados caísse, como foi o caso de Edessa, em 1144. Posteriormente, os outros Estados também cairiam.
O que movia esses cruzados seria apenas a fé ou os interesses de enriquecimento pessoal? O que fizeram essas pessoas arriscarem as próprias vidas para chegar à Terra Santa (Jerusalém)?
As outras Cruzadas seriam uma sucessão de derrotas. Assim, as Cruzadas fracassaram em seus objetivos. A Cristandade continuou superpovoada para os recursos que possuía; o próprio comércio em algumas regiões se viu prejudicado por conta das Cruzadas; a intenção eclesiástica de pacificar a Europa cristã desviando a nobreza sem terras para zonas periféricas, não teve sucesso.

Todavia, se trata de um movimento que teve repercussão na “mentalidade” das pessoas. Passou a haver maior tolerância entre cristãos e muçulmanos. O que essa atitude significa? Houve também forte oposição aos clérigos (homens da Igreja). Estariam lançadas as sementes da Reforma Protestante do século XVI?
E, enfim, na cidade, a burguesia se fortalecera. Ela combatia a autonomia dos feudos, a descentralização política e as intervenções da Igreja na vida política e econômica. Ou seja, os elementos que constituíam e mantinham o feudalismo em pleno funcionamento.
As Cruzadas realmente funcionaram como válvulas de escape?



Fonte: rendição de Antioquia e o massacre praticado pelos cruzados (século XIII)[6].



[1] FALBEL, Nachman. Kidush Hashem. Crônicas Hebraicas sobre as Cruzadas. SP: Edusp/Imprensa Oficial do Estado, 2001, p. 9
[2] FRANCO Jr., Hilário. As Cruzadas. SP: Brasiliense, 1982.
[3] Idem, pp. 7-8.
[4] Idem, pp. 23-24.
[5] Idem, p. 38.
[6]FALBEL, Nachman. Kidush Hashem. Crônicas Hebraicas sobre as Cruzadas. SP: Edusp/Imprensa Oficial do Estado, 2001, p. 10.



BIBLIOGRAFIA

FALBEL, Nachman. Kidush Hashem. Crônicas Hebraicas sobre as Cruzadas. SP: Edusp/Imprensa Oficial do Estado, 2001.

FRANCO Jr., Hilário. As Cruzadas. SP: Brasiliense, 1982.
[1] Idem, p. 267.

Artigo gentilmente cedido pela Profª. Iara D'Assunção da UNIFRAN - mestre em História.

Um comentário:

  1. Olá,achei que é um excelente texto,muito esclarecedor,preciso.Ajudou muito a tirar minhas dúvidas.Obrigada...

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