segunda-feira, 15 de junho de 2009

Cruzadas - "A Cavalaria Medieval"

O termo cavalaria é amplo, segundo alguns pode chegar a 10 significados ( Lloyd’s Encyclopaedic Dictionary) ou ainda segundo o New English Dictionary tem sete significados, pode significar grupo montado a cavalo, status ou condição social, ou ainda o sentido de corpus que essa classe assumiu durante a Baixa Idade Média, nesse sentido Cavalaria significa conjunto de normas e costumes religiosos, morais, sociais movidos pelo espírito de aventura é em sobre esse último significado que gostaria de me debruçar um pouco. Baseado em Lacroix “Cavalaria foi um sistema que modificou e completou o feudalismo. Não foi uma instituição, mas uma associação ética e religiosa, que lançou um raio de beleza ideal através de uma sociedade corrompida pela anarquia”. Na França se desenvolveu o ethos da cavalaria medieval perfeito, segundo certo deão (Chefe) erudito o cavaleiro tinha “ elevado sentimento da honra, desprezo pelo perigo e pela morte, amor pela aventura, auto-sacrifício e altruísmo”.

O ethos da cavalaria era caro e ainda a cavalaria possui além do significado militar a conotação social que envolve o ato de se fazer parte da cavalaria em especial entre os séculos XI e XIV. A nobreza que confere a regulamentação a esse patamar de cavaleiro, a ponto de a cavalaria representar a nobreza, ou melhor, o braço militar da nobreza. Com a desagregação de um poder central em fins do primeiro milênio como conseqüência surge um maior fortalecimento dos feudos e do avanço bélico de sua alçada, o que acontece é que os senhores feudais acabam tornando-se o referencial de poder local, ainda existiam os reis, porém é preciso ter a prerrogativa de que a Europa dos séculos IX em diante tem profunda dificuldade de locomoção e de disseminação das informações, só pra constar às estradas construídas pelo Império Romano ainda eram as melhores rotas, ou seja, ficava custosa e muito demorada a locomoção de tropas e administração para determinadas áreas o que obviamente resulta em um maior fortalecimento do senhor feudal que possui em seu território um contingente preparado para o combate e apito a resolver as querelas da sua região, no que diz respeito à segurança o Forte ou Castelo desse senhor está muito mais próximo que o Castelo do Rei.

Nesse ínterim a Igreja busca também se fortalecer e se proteger e aos seus, inversamente proporcional ao enfraquecimento de um poder central a Igreja busca galgar, trazer para sua orla de influência esses cavaleiros, afinal a perda de referencial, os grandes reis, faz com que hordas sedentas de terras e riquezas possam alvejar terras da Igreja e dos seus. O que promove uma reação dessa mesma Igreja ante a legitimação dessa reação frente ao invasor mulçumano, eslavos, magiares e dinamarqueses ou a própria ganância de principados cristãos, os cavaleiros dos séculos IX e X não tem nada dos gentis e perfeitos homens dos séculos XI, XII e XIII. Ora os séculos de pós-enfraquecimento de um poder central foram propícios para a sedimentação dessa classe a dos cavaleiros, antes o posto que pertencia aos reis e príncipes agora também faz parte dessa classe que assume a proteção da Igreja, vale ressaltar que o medievo não abstém do religioso em momento algum, sendo assim o respeito e a relevância a Igreja estão sempre no seu cotidiano, afinal a Igreja também se torna o legitimador e fator de unidade. A partir de 1095 surge o conceito de que toda pessoa ao fazer 12 anos deveria jurar proteção aos jovens e mulheres viúvas, daí surge a cavalaria cristã. A igreja consegue trazer para sua orla de influência a cavalaria, logo depois de monopolizar a cerimônia da investidura dos cavaleiros, ato pelo qual o noviço deveria passar para sagrar-se cavaleiro e quem o imbuia de tal permissão era a Igreja.

A cavalaria nesse momento muito mais que a idéia de corporação ou confraria torna-se um modo de vida, não é de se estranhar que se torna titulo nobiliário. Por essa época a cavalaria traça um modo de pensar e agir como uma classe, assim como no Japão os Samurais tornara-se, classe ou estamento. Tal é a sua importância social que no século XIII o escudeiro que até meados do século XI era considerado estado de simplicidade e sem importância, torna-se até um grupo que enquanto movimento pertencente à nobreza constitui aos nobres que não se tornaram cavaleiros ( “armados cavaleiro”) um status próprio.




Acabou constituindo-se hierarquicamente o direito de ser cavaleiro ou vir a ser, em principio o braço armado do senhor necessariamente não era nobre, e sim um membro do campesinato que era armado pelo senhor para a proteção do castelo, com o devir houve o posterior distanciamento dos camponeses e a elitização desses servidores. Como característicos esses cavaleiros acabam tornando-se economicamente destacados e por meio de alianças matrimonias com a nobreza constituem uma aristocracia, eles não são nobre ainda afinal nobreza tem haver com sangue e berço.
O auge da cavalaria é alcançado durante as Cruzadas, vale ressaltar que não de forma ordenada, no entanto podem as Cruzadas ser observadas como válvulas de escape para os cavaleiros ( É mito a idéia de que o cavaleiros que foram lutar nas Cruzadas eram os que não tinham posse ou experiência na Europa, o que sabemos é que a elite da cavalaria medieval é que parte para Outremer )

Os Hospitalários, Templários e os Teutônicos são os grandes exemplos de união entre o ethos da cavalaria e o espírito do monaquismo.

E nesse mundo das Cruzadas que a Cavalaria Medieval se põe em marcha e conhece suas maiores vitórias e suas maiores derrotas.

Bibliografia:

A CAVALARIA MEDIEVAL . Professores do King’s College de Londres
GUILHERME MARECHAL OU O MELHOR CAVALEIRO DO MUNDO Georges Duby
HISTÓRIA ILUSTRADA DAS CRUZADAS. W.B. Bartlett



Artigo gentilmente cedido por Marcos Levi , formado em História pela UERJ com especialização em Idade Média - Heresias São Francisco de Assis e participante ativo do http://quemtembocavaiaroma.livreforum.com/ fórum de discussões de assuntos gerais.

2 comentários:

  1. Olá, Gostei da ideia do blog e gostaria de dizer que a cavalaria não se confunde com as Cruzadas, nem todos os cruzados eram cavaleiros e nem toda a cavalaria partia em Cruzada. O que esses homens fizeram no momento das Cruzadas não teve nada de romântico, apesar de serem apresentados assim pela literatura da época. Cometeram verdadeiras carnificinas, especialmente contra os judeus, mesmo que eles contassem com uma moral de defesa dos fracos e oprimidos. Contanto que esses oprimidos não fossem muçulmanos ou judeus.

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  2. Olá, muito bom post, queria que continuassem com o trabalho, que está otimo.

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